quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Tudo dominado

A
velocidade com que fatos ligados a corrupção se sucedem no Brasil, envolvendo o público e o privado, é para nenhum outro país botar defeito. Nem bem terminou o maior processo político já julgado no Brasil pelo STF, a Ação Penal 470, e já temos aí em  manchete a Operação Lava Jato, coordenada pela Policia Federal, e que pela primeira vez deu prisão a notórios executivos de importantes empresas empreiteiras de obras que mantinham contratos milionários com a Petrobrás, entre elas a OAS, Queiroz Galvão, Camargo Correa, Mendes Junior e outras tantas, envolvendo cifras que deixa o “Mensalão” na rabeira. O tufão que invadiu o Planalto neste final do primeiro mandato de Dilma Roussef, e exala o cheiro do enxofre (elemento presente no petróleo, mas também faz referencias a algo sinistro) traz uma grande confusão para a Presidente que precisa montar sua equipe de Governo para 2015, mas corre o risco de indicar um político denunciado na delação premiada ora em curso pela Justiça Federal, e que pode ter início já, logo após esta última fase da Operação Lava Jato denominada de Juízo Final.  
A condução na escolha da nova equipe do primeiro e segundo escalão do Governo, dando prioridade para a indicação de nomes na área econômica, passa a constituir, junto com a crise na Petrobrás, um fardo pesado para a Presidente Dilma, levando todos a um bate-cabeças generalizado. Com o envolvimento do próprio partido da Presidente e da base aliada (PT, PMDB e PP) no escândalo da Petrobrás, cabe só a ela (dever de casa) desatar este nó, pois, quem pariu Mateus que o embale.
A Operação Lava Jato segue avante, intercalando declarações das mais inóspitas dominando os noticiários, formando opiniões das mais diversas e que mexem com o brio e o caráter das pessoas.  Dentre todas as declarações, o que mais deixou os ânimos exaltados, no contexto da moralidade, foram as do criminalista Mario de Oliveira Filho, que defende o suposto operador do PMDB no esquema de propinas na Petrobrás, dito na porta da Policia Federal, em Curitiba, base da Operação Lava Jato: “a corrupção faz parte de uma cultura enraizada no País... não se coloca um paralelepípedo no chão sem propina”.  A frase tida como uma maneira de ver a corrupção, se não como uma coisa normal, mas algo como “esta é a dura realidade, e ponto final”, definitivamente não convence a maioria que se preza e que prefere ganhar o seu de forma equilibrada e por competência. A opinião inconveniente do causídico e que leva ao extremo a tática de defesa na tentativa de salvar o seu cliente da cadeia, parece não levar em conta as verdadeiras dimensões do fenômeno lesa pátria, desconsiderando que a população foi saqueada, que o digam aqueles acionistas minoritários que investiram parte de seu FGTS na Petrobrás, praticados por executivos das empreiteiras que por sua vez acusam os dirigentes da estatal e seus intermediários doleiros e lobistas de chantagem, extorsão e outros meios para o fechamento de contratos de obras milionárias com a Petrobrás.
Esta falácia de projetar uma idéia de que somos todos suspeitos e que na primeira oportunidade vamos dar o golpe, é deplorável. Pode-se ate haver duvidas quanto o caráter, mas não permite presumir que o resultado seja invariavelmente o errático. Como o estouro da boiada, quando todos correm para uma direção única, sem controle e consciência do seu movimento, neste aspecto o ser humano se difere, mesmo quando tende agir por impulso da emoção, pois, racional por essência divina, pode inteligentemente redirecionar os procedimentos pelo sentido da razão.
A corrupção decorrente de 12 anos de desgoverno petista, que assombram pelo nível da classe política e empresarial envolvida, e pelas cifras que os cofres escondem, não dá o direito os casuísticos do ramo, tampouco ao atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, de cometer injustiças ao dizer que a “corrupção é cultural no Brasil” (Jornal O Estado de São Paulo, 22/11), e de pré-julgar a população, culpando-a por excessiva tolerância, responsabilizando-a por eleger sem critérios seus representantes. Como se tivéssemos a bola de cristal.     
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