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uando tudo já foi dito, no
Dia Nacional de Combate ao Fumo, 29 de agosto, os médicos fazem um alerta sobre
os riscos decorrentes do cigarro para o fumante passivo. Não é nenhuma novidade,
entretanto, todas as verdades devem ser repetidas tantas vezes quantas forem necessárias
até que medidas punitivas, proibitivas e impositivas sejam tomadas contra os principais
causadores desta desgraça, - a indústria do tabaco. Estudo feito por pesquisadores da Universidade de York, no
Reino Unido, e divulgado no mês passado, mostra que partículas da fumaça do
tabaco no ambiente podem causar problemas de saúde e até câncer em não
fumantes. As novas constatações lançam luz sobre a questão e demandam campanhas
específicas sobre o assunto, de acordo com o vice-presidente da Sociedade
Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Daniel Knupp. Enquanto o
grande vilão estiver dando as cartas, vamos continuar valendo de outras razões,
pertinentes, mas simplistas e de resultados pouco tangíveis, como a criação de
leis para inibir o fumo em locais fechados, públicos e privados. O fumo é responsável por mais de 200 mil
mortes por ano no Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O
cinismo da indústria do tabaco chega a tal ponto que determinada marca
de cigarros da Philip Morris está trazendo dentro do maço um encarte, onde diz:
“L&M Blue sempre inovando. Novo design do cigarro ainda mais moderno e
preservando o sabor balanceado que você já conhece", e logo abaixo a
figura deprimente de uma vitima do fumo, com o seguinte alerta: "Este
produto contém mais de 4.700 substancias tóxicas, e nicotina que causa
dependência física ou psíquica. Não existem níveis seguros para consumo destas
substancias”.
Irremediavelmente, somos
todos fumantes passivos e os efeitos nocivos vão depender do maior ou menor
nível de exposição e das circunstancias do ambiente que frequentamos no nosso
dia a dia. Em casa, embora contrariado, acabo cedendo ao pedido de um cigarro, mas
partindo-o pela metade e combinando o horário do próximo, como de praxe, - uma cena
familiar triste e preocupante que provavelmente se repete mundo afora em lares que
convivem com o vicio.
A reprise de datas como a de
Combate ao Fumo demonstra o quanto terá ainda que caminhar para vencer esta questão
da saúde em família e estancar os malefícios do tabaco. Teimando em repetir
tudo o que já foi falado, não será demais apelar para semânticas já publicadas
e que consideram a indústria de cigarros a única que foge dos preceitos
empresariais modernos, pois, não podem encarar a saúde como um bom
investimento. E o governo irresponsável, interessado na alta arrecadação dos
impostos deste comércio, ainda tem duvidas do que seria mais importante nesses
momentos: combater a pirataria, aumentar o preço, ou adotar as duas medidas
juntas. Quanto à prática da “responsabilidade social” das indústrias do tabaco
foi assim comentada pelo jornalista Wilson Bueno, professor da USP e da
Universidade Metodista de São Paulo: “... na prática há um desvirtuamento do
conceito de responsabilidade social, que é reduzido pela indústria tabagista e
também por outros setores. A
responsabilidade social da indústria tabagista é mais uma das farsas
empresariais e evidencia a disposição de confundir a opinião pública, um
autêntico e equivocado processo de ‘limpeza de imagem’ que deve ser
sistematicamente repudiado”. A meu ver, cabe às indústrias do tabaco reconhecer
que são terminantemente responsáveis pelos sérios infortúnios causados, e resolvam
investir maciçamente em pesquisas científicas, e descobrir uma forma radical de
eliminar os efeitos nocivos do fumo, talvez a alteração genética das folhas do
fumo, ou um superfiltro capaz de eliminar 100% das substancias tragadas. Enquanto
isto não acontece, vamos continuar partindo os cigarros pela metade.
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