quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O máximo do cinismo


Q
uando tudo já foi dito, no Dia Nacional de Combate ao Fumo, 29 de agosto, os médicos fazem um alerta sobre os riscos decorrentes do cigarro para o fumante passivo. Não é nenhuma novidade, entretanto, todas as verdades devem ser repetidas tantas vezes quantas forem necessárias até que medidas punitivas, proibitivas e impositivas sejam tomadas contra os principais causadores desta desgraça, - a indústria do tabaco. Estudo feito por pesquisadores da Universidade de York, no Reino Unido, e divulgado no mês passado, mostra que partículas da fumaça do tabaco no ambiente podem causar problemas de saúde e até câncer em não fumantes. As novas constatações lançam luz sobre a questão e demandam campanhas específicas sobre o assunto, de acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Daniel Knupp. Enquanto o grande vilão estiver dando as cartas, vamos continuar valendo de outras razões, pertinentes, mas simplistas e de resultados pouco tangíveis, como a criação de leis para inibir o fumo em locais fechados, públicos e privados. O fumo é responsável por mais de 200 mil mortes por ano no Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O cinismo da indústria do tabaco chega a tal ponto que determinada marca de cigarros da Philip Morris está trazendo dentro do maço um encarte, onde diz: “L&M Blue sempre inovando. Novo design do cigarro ainda mais moderno e preservando o sabor balanceado que você já conhece", e logo abaixo a figura deprimente de uma vitima do fumo, com o seguinte alerta: "Este produto contém mais de 4.700 substancias tóxicas, e nicotina que causa dependência física ou psíquica. Não existem níveis seguros para consumo destas substancias”.
Irremediavelmente, somos todos fumantes passivos e os efeitos nocivos vão depender do maior ou menor nível de exposição e das circunstancias do ambiente que frequentamos no nosso dia a dia. Em casa, embora contrariado, acabo cedendo ao pedido de um cigarro, mas partindo-o pela metade e combinando o horário do próximo, como de praxe, - uma cena familiar triste e preocupante que provavelmente se repete mundo afora em lares que convivem com o vicio.   
A reprise de datas como a de Combate ao Fumo demonstra o quanto terá ainda que caminhar para vencer esta questão da saúde em família e estancar os malefícios do tabaco. Teimando em repetir tudo o que já foi falado, não será demais apelar para semânticas já publicadas e que consideram a indústria de cigarros a única que foge dos preceitos empresariais modernos, pois, não podem encarar a saúde como um bom investimento. E o governo irresponsável, interessado na alta arrecadação dos impostos deste comércio, ainda tem duvidas do que seria mais importante nesses momentos: combater a pirataria, aumentar o preço, ou adotar as duas medidas juntas. Quanto à prática da “responsabilidade social” das indústrias do tabaco foi assim comentada pelo jornalista Wilson Bueno, professor da USP e da Universidade Metodista de São Paulo: “... na prática há um desvirtuamento do conceito de responsabilidade social, que é reduzido pela indústria tabagista e também por outros setores. A responsabilidade social da indústria tabagista é mais uma das farsas empresariais e evidencia a disposição de confundir a opinião pública, um autêntico e equivocado processo de ‘limpeza de imagem’ que deve ser sistematicamente repudiado”. A meu ver, cabe às indústrias do tabaco reconhecer que são terminantemente responsáveis pelos sérios infortúnios causados, e resolvam investir maciçamente em pesquisas científicas, e descobrir uma forma radical de eliminar os efeitos nocivos do fumo, talvez a alteração genética das folhas do fumo, ou um superfiltro capaz de eliminar 100% das substancias tragadas. Enquanto isto não acontece, vamos continuar partindo os cigarros pela metade.  

                                                                                   



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