sexta-feira, 17 de abril de 2015

A incapacidade de prever

(Publicado no Jornal da Serra, 17/4/2015)

N
ão errei por pouco, mas por muito, quando escrevi nesta coluna que a estiagem que enfrentamos é a mais severa dos últimos vinte anos. Na verdade são oitenta anos. Poderia alegar que o erro foi proposital para chamar a atenção do leitor para a dimensão do problema, mas prefiro as desculpas – “errar é humano”. O mais importante é externar a preocupação por se tratar da estiagem mais intensa das que já enfrentamos até hoje, afetando seriamente a disponibilidade deste elemento de suma importância para a nossa sobrevivência.
E a mídia, que de uns tempos para cá, parecia dar pouca importância para os fatos, noticiando de maneira esparsa e nas páginas internas dos jornais, passou novamente a dar o merecido destaque ao problema. A gestão da água é o tema de uma série de reportagens que o Jornal Nacional começou a apresentar nessa segunda-feira (13). As cenas apresentaram propriedades rurais onde existem dezenas de nascentes: pontos em que a água aflora do subsolo, formando um fluxo constante, que servem a agricultura e as residências no campo, e forma um ribeirão que serve de afluente para o Rio das Velhas que abastece a Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A crise hídrica na região Sudeste que começou no final de 2013, atingindo a cheio, ou melhor, no vazio, a maior capital do país – São Paulo, gerado pela má gestão dos recursos hídricos, obrigou um volume de soluções para resolver no afogadilho o desespero da população que passou a economizar a água desde a barba da manhã até o banho do corpo suado à noite, do aproveitamento da água da chuva como reserva, e da corrida às lojas para comprar mais caixas d’água.
Se inicialmente os políticos, as autoridades e os técnicos, responsáveis pela gestão (ineficiente) dos recursos hídricos, procuraram administrar a crescente falta da água com medidas corretivas para mitigar o resultado do caos, agora, neste Outono, tudo indica que as atenções estarão voltadas para a adoção de medidas preventivas, com ações voltadas para a origem das causas, ou seja, para a proteção das nascentes que formam os mananciais e abastecem os reservatórios. O período real da estiagem que se inicia agora nesta estação do ano dá uma idéia do drama que seria passar novamente por um período de seca, sem uma reserva da água garantida para o abastecimento diário da população, principalmente das grandes metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, - os mais castigados.
O governo paulista decidiu (14/4) investir R$ 3 milhões no projeto de PSA – Pagamento por Serviços Ambientais, destinados a proteção de nascentes na área rural do município de Hortolândia, o primeiro a ser beneficiado no Estado de São Paulo. A discussão sobre o tema envolve também a Assembléia Legislativa de Minas Gerais (9/4), que prepara para o segundo semestre um seminário em parceria com órgãos, entidades e instituições ambientais, para discutir as questões relativas a tecnologias de irrigação e barragens para o maior aproveitamento da água no meio rural. Na área do governo federal, a Agência Nacional de Águas - ANA, promoveu (17/3), em Brasília, o Seminário Programa Produtor de Água / PSA, reunindo representantes de 38 projetos que estão em andamento, com 187 participantes entre técnicos, prefeitos, e secretários do Meio Ambientes, entre estes o Município de Itanhandu – MG.
Um absurdo seria considerar estas iniciativas de primeira grandeza, que evidentemente deveriam ter sido implementadas antes da crise, de forma naturalmente planejada. A cada dia passamos a reconhecer e entender o homem como um ser limitado e deliberadamente incapaz de prever o previsível.

Nenhum comentário: