sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Com o dever cumprido



Q
uando Eduardo Campos, candidato a Presidente da Republica, terminou a entrevista pela Rede Globo de Televisão, na véspera de sua morte, não tinha dúvidas de que havia assistido o melhor desempenho entre os presidenciáveis, alguns ainda a serem entrevistados. Poder expressar minha opinião a seu respeito antes do acidente aéreo deixou aliviado de cometer alguma injustiça. O presidenciável encerrou um ciclo político promissor. Confiante e de semblante jovial, nem um pouco lembrava o do seu avô Miguel Arraes, de aparência rústica, e por duas vezes eleito governador de Pernambuco, também morto num 13 de agosto.  Tivesse o Estado de Pernambuco a densidade eleitoral e a representatividade econômica mais próxima do patamar de outros Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, ou Minas Gerais, por exemplo, muito provavelmente os números das pesquisas seriam outros, e Eduardo com Aécio Neves já estariam de fato incomodando  a candidata Dilma Roussef com a certeza  da realização do segundo turno nestas eleições de 2014.  Sob o duro questionamento do entrevistador Willian Boner, do Jornal Nacional, durante os quinze minutos de perguntas e de respostas o presidenciável não titubeou, e, no final, olhos azuis focados nos eleitores, passou sua última mensagem: “Não vamos desistir do Brasil”.   Certas vezes nos sentimos privados do convívio daqueles que acostumamos a admirar, e nos tornamos assim como órfãos políticos, sejam num clima de grandes embates que são interrompidos pela força dos votos contrários, sejam pelas formas trágicas como são impedidas essas realizações.  Na Praça da Sé, em 1984, também era enorme a vontade popular por mudanças com o fim das eleições indiretas. Vestindo a camisa (literalmente), de frente fotografei Tancredo Neves sob um guarda-chuva subindo os degraus rumo ao palanque de discurso naquela noite das “Diretas já”, que não vingou naquele ano, mas que marcou o inicio de uma era política com democracia. Eduardo Campos deixa o legado de um plano de governo inovador, elaborado com a extraordinária aliança que fez com Marina Silva, ambientalista, como um sinal de que é possível o progresso com  desenvolvimento sustentável, por hora  uma bandeira hasteada  a meio pau.  Nunca vamos saber como seria o Brasil se Eduardo fosse eleito, mas sempre há esperanças quando é notável o desejo de melhorar a qualidade do país. Ouvir quem fundamenta com clareza as suas ideias, e torna-la exequível faz bem aos ouvidos, pois nesse sentido evoluem nossas preferências pelos futuros dirigentes do Brasil, tornando o cotidiano mais palatável aos projetos de vida do cidadão.
Na edição passada deste Jornal (“Eleições, Copa e análise de risco”), escrevi que os postulantes ao mais alto cargo do País estavam ainda nos devendo como serão desatado estes nós que amarram a economia e emperram o ciclo do desenvolvimento do país e a prosperidade do cidadão; que não basta apenas tocar nos problemas, pois são públicos e notórios.  Eduardo Campos, frente às câmeras da Rede Globo de Televisão, em sua ultima aparição como candidato a Presidente, foi incisivo nas suas propostas, claro e objetivo ao explicar o seu plano de governo, levando consigo o sentimento do dever cumprido. Com o trágico acontecimento, molda-se um cenário que nas adversidades os elementos se somam, não subtraem, e com Marina Silva candidata no lugar de Eduardo configura-se a certeza do segundo turno. No embalo das coligações futuras surge a oportunidade de um modelo inovador político para o país. 

Eleições, Copa e análise de risco


N
enhum analista do setor econômico e financeiro hoje acredita que poderá haver melhora da qualidade de vida da população, a curto e a médio prazo, se permanecer o atual quadro da conjuntura política, econômica e fiscal do País. As medidas tomadas nos últimos meses pela equipe governamental são contraditórias, simplistas e insuficientes para conter o avanço da inflação. Uma ingenuidade, por exemplo, zerar o IPI para a compra de carros novos, numa tentativa de alavancar a indústria automobilística, esquecendo-se que não há tantos novos compradores de automóveis e outros bens duráveis, pois, quem já comprou seu carro zero ou a geladeira há menos de um ano, deve mantê-los pelo menos nos próximos três anos ou mais. As demissões e suspensões de contratos de trabalho de milhares de trabalhadores das indústrias são as provas disso. Diante da falta de emprego que aumenta a cada dia, e por causa da inflação,  o consumidor quer mais é dar conta do orçamento doméstico e sair da inadimplência das compras assumidas em época do financiamento a perder de vista e dos juros altos, estimulados pelo Governo.
A Copa do Mundo, independente dos placares (inesquecíveis sete a um), historicamente nunca influíram nos resultados das eleições, no caso, a favor ou contra os políticos que estavam no poder nas épocas que coincidiram os dois eventos. Os custos financeiros da Copa, estes sim, deverão influir negativamente na vida do brasileiro no tocante a falta de infraestrutura nas áreas de transporte, segurança, saúde, educação, moradia, e por aí vai. Quem não se lembra das manifestações de rua e dos cartazes que diziam: “Queremos qualidade de vida Padrão FIFA!” Sem contar que o reflexo da baixa produção da indústria hoje se deve ao esfriamento de grande parte do comercio que fechou suas portas durante os horários dos jogos. Segundo dados da Federação do Comercio do Estado de São Paulo, no mês de julho, 31,8% dos empresários acumularam estoques acima do ritmo de vendas. Sob o ponto de vista do PIB – Produto Interno Bruto, um “pibinho”, dificilmente apresentará até o final do ano um resultado acima de 1%, - o pior entre os países latinos americanos.
As eleições deste ano tanto estão preocupando o mercado econômico e financeiro que,  recentemente, uma equipe de analistas do Banco Santander surpreendeu a todos  ao emitir um informe que foi distribuído aos clientes, cujo texto apontava para o risco de deterioração da economia, com queda da Bolsa de Valores, alta de juros e desvalorização cambial, caso a presidente Dilma Roussef se estabilizasse  na liderança das pesquisas de intenção de voto. O comunicado incomodou a campanha à reeleição e levou a instituição financeira a se retratar publicamente. A equipe de analistas do Banco foi demitida por ferir as normas da instituição.
O desafio de criar uma política econômica favorável aos empresários e evitar a estagnação industrial, injetando mais confiança ao setor, está cada vez mais impossível para o Governo neste curto tempo para as eleições presidenciais.
Por outro lado, os demais postulantes ao mais alto cargo do País, deveriam ocupar este espaço com seriedade e transmitir aos eleitores esta confiança que falta. É necessário mais qualidade aos debates pela televisão e outros meios de comunicação, e serem potencialmente incisivos nas suas propostas, deixar de generalidades e explicitar como vai funcionar o modelo de gestão e os programas de governo, da forma mais clara e objetiva possível, sem devaneios. Apenas tocar nos problemas não é o suficiente, pois são públicos e notórios. Estão ainda nos devendo como serão desatados estes nós que amarram a economia e emperram o ciclo do desenvolvimento e a prosperidade do cidadão que paga seus impostos, aliás, um dos mais exorbitantes do mundo.