C
|
om esta frase: “Sinto-me
autorizado a alertar a Nação brasileira de que esse é apenas o primeiro passo.
É uma maioria de circunstancia que tem todo o tempo a seu favor para continuar
sua sanha reformadora”, e dizendo-se contrariado, o ministro Joaquim
Barbosa selou o segundo julgamento do crime de formação de quadrilha imputada
aos condenados do mensalão, derrubada por seis votos a cinco pelo Supremo
Tribunal Federal.
A participação no julgamento de dois novos ministros que
não integravam ainda a corte em 2012, mudou a sorte dos principais envolvidos
na AP 470, denominado de núcleo político, no caso o ex-chefe da Casa Civil,
José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT, Delubio Soares, e o ex-deputado federal, José
Genoino, que agora se livram do regime fechado de prisão. Condenados por
corrupção ativa, crime para o qual não cabe mais recurso, poderão agora deixar
a cadeia onde cumprem pena no semiaberto ainda este ano. Para Joaquim Barbosa,
presidente do STF, este resultado foi um desastre institucional, “é uma tarde triste”, disse ele. Já para
os advogados de defesa a reversão da sentença foi comemorada com entusiasmo. “A absolvição atinge o coração, o cerne da
acusação”, como declarou o defensor de Dirceu, José Luiz de Oliveira Lima.
Assim o julgamento chega praticamente ao seu termino, restando apenas decisões de
embargos infringentes de três condenados por lavagem de dinheiro, entre eles
João Paulo Cunha, ex-deputado federal.
E uma vez mais o ministro Joaquim Barbosa consegue chamar
a atenção para si, num palco com Ibope de dar inveja às novelas da própria Rede
Globo que transmitiu ao vivo todas as fases do julgamento do mensalão. O destempero verbal, sua marca peculiar, no
entanto, não tem sido por conta apenas do mal que o acomete a tempos - a “sacroileíte”,
uma lesão inflamatória das articulações
sacroilíacas, que causam dores e comprometem a capacidade laborativa do
individuo, contribuindo de forma negativa no trabalho profissional (Blog – 16/10/2013) -, mas também pelo
gosto exacerbado de atuar diante dos holofotes da
mídia transmitindo a imagem de “ferrabrás”, no que agrada a uma parcela da
população.
Há pouco mais de uma semana, quando começaria
a julgar os embargos infringentes declarou à imprensa não estar interessado no
resultado do julgamento dos recursos, dizendo: “Não tenho interesse nenhum. Dê no que der, para mim...”. Mas, em
mais um descompasso verbal, não foi isto que demonstrou durante o julgamento. O
jornalista Felipe Recondo, do Jornal O Estado de São Paulo, uma das vítimas dos
achaques do presidente do STF que certa vez o mandou aos gritos “chafurdar no lixo”, escreveu (28/2): “Um discurso para além do tribunal. - Os
ataques de Joaquim Barbosa aos colegas implodem as ultimas pontes que ele
mantinha no tribunal, mas moldam um discurso político às vésperas do processo
eleitoral. Barbosa está hoje entre o isolamento no Supremo e a possibilidade de
se aventurar com relativas chances de sucesso na disputa eleitoral do Rio de
Janeiro. A nove meses de deixar a presidência do Supremo a um mês do prazo
legal para se filiar a um partido e disputar as eleições – magistrados podem
fazer isso ate seis meses antes do pleito – Barbosa transformou uma derrota em
palanque para falar ‘à Nação Brasileira’. Barbosa levantou suspeita sobre
colegas, insinuou que chegaram à Corte com voto encomendado, afirmou que a
maioria do tribunal atua dissimuladamente para reverter as condenações e disse
que o Supremo restringe aos pobres o crime de formação de quadrilha. Nenhum dos
seus alvos quis o confronto. Ficaram visivelmente incomodados com as
declarações, mas preferiram o silencio. Sabiam que Barbosa não falava para o
publico interno. Seu discurso em forma de voto mirava outro publico. As
expectativas sobre o futuro eleitoral de Barbosa são alimentadas pelo cortejo
de partidos políticos, pelo seu discurso – popular para uns, populista para outros
-, pelos seus assessores mais próximos e por suas negativas evasivas. Da ultima
vez em que foi confrontado com essa possibilidade, disse oficialmente que não
seria candidato ‘à Presidência da República’, mas não rejeitou outras
alternativas. Nesse jogo de sinais trocados, Barbosa pode não ter achado tão
triste assim a tarde de ontem”.

Nenhum comentário:
Postar um comentário