A próxima edição do julgamento do mensalão vai merecer um lugar de destaque em audiência, comparado a episódios de grandes filmes e novelas produzidos em série.
O encerramento ou a
continuidade da Ação Penal 470, em que José Dirceu– condenado a 10 anos e 10
meses de prisão pelo “domínio do fato”, e outros réus que experimentam dias de
angustia e tensão, será decidido pelo voto do ministro Celso de Melo. A
continuidade do processo só se concretizará se o voto for favorável a permitir os
embargos infringentes pelos advogados de defesa dos réus. Para quem achava que
iria tudo “acabar em pizza’, as sentenças de prisão seja em regime fechado ou
semiaberto é um duro golpe, irreversível, caindo por terra a impunidade dos envolvidos.
A
experiência e a serenidade do decano da Casa, já levou o ministro Celso de
Mello, a intervir no auge do bate-boca entre os ministros Lewandowski e Joaquim
Barbosa que reagiu
com indignação ao que classificou de tentativa de “chicana”, na fase dos embargos declaratórios,
para propor – sendo atendido – que a sessão fosse suspensa para a retomada da
discussão, em termos mais amenos, na semana seguinte. Ele saiu em defesa de
Lewandowski e afirmou que o voto divergente precisa ser respeitado pelos
demais. “Ninguém
tem o poder de cercear a livre manifestação dos ministros que integram o STF.”
Embora havendo se manifestado anteriormente a favor dos embargos infringentes, foi "autor de um dos votos mais duros contra os réus do mensalão: o decano do Supremo Tribunal afirmou que o ex-ministro José Dirceu foi incapaz de exercer a política com honestidade, integridade e em prol do interesse público. Ao contrário, valeu-se da política para cometer crimes e, com isso, obter vantagens indevidas e controlar indevidamente o Estado brasileiro".
Embora havendo se manifestado anteriormente a favor dos embargos infringentes, foi "autor de um dos votos mais duros contra os réus do mensalão: o decano do Supremo Tribunal afirmou que o ex-ministro José Dirceu foi incapaz de exercer a política com honestidade, integridade e em prol do interesse público. Ao contrário, valeu-se da política para cometer crimes e, com isso, obter vantagens indevidas e controlar indevidamente o Estado brasileiro".
Se o STF por seu lado demonstrou persistência e seriedade
no maior julgamento político da Historia (afora o temperamento intempestivo e impróprio
do ministro Joaquim Barbosa), o dia seguinte para a opinião publica indica que o
movimento da população, de maneira ordenada, não deve deixar as ruas.
O Estadão publica neste domingo a matéria:
Supremo: entre o
‘palanque’ e a ‘prestação de contas’
Daniel Bramatti, do
Jornal Estado de São Paulo, 15/9/2013
Advogados e professores avaliam
o debate na Corte sobre a influência da opinião pública no processo
do mensalão
Nunca ficou tão evidente a
preocupação dos ministros do Supremo Tribunal Federal com a opinião pública
quanto na mais recente das cinco dezenas de sessões de julgamento do mensalão. Bastante discutida nos
bastidores, a questão veio à tona diante das câmeras de televisão graças a um
debate entre os ministros Marco Aurélio Mello e Luís Roberto Barroso. De um
lado, Marco Aurélio, contrário a um novo julgamento para parte dos condenados
no mensalão e preocupado com a repercussão das decisões do tribunal. De outro,
Barroso, favorável a uma nova análise dos crimes e dizendo-se alheio à voz das
ruas.
Na quarta-feira que vem,o voto final sobre a possibilidade de
aceitação dos embargos infringentes– cabíveis, segundo o regimento do Supremo,nos
casos de condenação com placar apertado,mas não previstos mais na legislação
brasileira desde 1990–será dado pelo mais antigo ministro da Corte,Celso de Mello.O
pano de fundo sobre o debate de quinta é justamente a pressão que recai sobre o
decano:desempatar a votação sobre os embargos infringentes, que estáem cinco a
cinco. Celso de Mello já indicou que é favorável ao recurso, que pode beneficiar
condenados como o ex-ministro José Dirceu.
Para especialistas ouvidos pelo Estado, o diálogo de Marco Aurélio
com Barroso evidencia que, por mais técnico que seja,o tribunal dá sim ouvidos
à opinião pública ao julgar –mas isso está longe de significar que o chamado
“clamor das ruas” dite as decisões do colegiado.“
O Poder Judiciário leva em conta a opinião pública, mas
num conceito amplo de confiabilidade nas instituições”, diz Marcelo Figueiredo,
professor de Direito Constitucional na PUC-SP. “A decisão técnica do tribunal
terá impacto na sociedade.Os ministros estão temerosos é de como esse resultado
vai ser filtrado para a opinião pública, para que não haja um sentimento de
impunidade.”
Segurança. Sobre o risco de uma decisão “política”, o professor ressalta
que o tribunal não está a serviço de interesses de partidos. “O Supremo é
político. O direito constitucional tem um conteúdo político. Não político-partidário,
mas no sentido de traçar políticas de Estado”, diz Figueiredo.“
A opinião
pública também entra no caldo de formação da decisão de qualquer julgador”, afirma o advogado Roberto
Delmanto Júnior, que concorda com a posição de Marco Aurélio.O advogado entende
que não se trata de ficar refém do público, mas sim de ter o dever diante dele.
“Os juízes, como servidores públicos, devem se preocupar com a devida prestação
jurisdicional, no que diz respeito ao direito de todos os cidadãos à
Justiça.”
No caso específico do mensalão, afirma Delmanto Júnior, “o tribunal deve
pensar na população que coloca toda a sua sensação de resguardo da segurança no
Poder Judiciário”. Para ele, haverá “uma insegurança jurídica muito grande ”se o
STF admitir os embargos infringentes, o que deve levar a decisão final sobre as
penas para 2014.
Para Luiz Flávio Gomes, ex juiz criminal, a manifestação de Marco
Aurélio foi equivocada.“Ele cometeu um erro crasso,fez um exercício de populismo
penal e parecia político em palanque.”Para Gomes, Barroso estava correto ao
afirmar que o Supremo não deve votar “com a multidão”.“Respeitar multidão é
argumento político, isso não condiz com um julgamento.”
Flávia Piovesan,
professora doutora de Direito Constitucional e Direitos Humanos da PUC SP, também
considera inadequada a discussão sobre opinião pública ocorrida na quinta feira.“Se
você votou em um deputado, em uma plataforma política,há todo sentido em cobrar
dele lealdade. Mas isso nãosepode exigir do Poder Judiciário,que se afirma em outra
legitimação, a guarda das leis e da Constituição”, afirma ela.
Por mais que a
opinião pública tenha sido levada para o centro do processo, em algo todos os ouvidos
pelo Estado concordam:não será esse fator que decidiráo voto de Celso de
Mello sobre os embargos infringentes na próxima quarta-feira.“
Nenhuma pressão funcionará
com ele, que é um ministro ético e trabalhador”, afirma Luiz Flávio Gomes.
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