quinta-feira, 18 de abril de 2013

Degringolou de vez


Nesse tempo dos ânimos exaltados, as palavras do consenso acabam transformando em impropérios. O jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação Gaudêncio Torquato, em sua coluna do Estadão de domingo, de maneira oportuna e elucidativa, dá inicio a uma enxurrada de atitudes impróprias de um lado e corretivas de outro, por parte de figuras midiáticas da política e do judiciário, da atualidade e do passado. Em seu artigo “Degringolou de vez”, como titulo, escreve que é geral o destempero verbal. O que é natural nas arquibancadas das torcidas de futebol, peladas e botecos da periferia quando emoções etílicas resultam um linguajar inaudível sob todos os aspectos, o que dizer quando o som ecoa da Corte Suprema do País e (nada mais nada menos) seja o presidente e ministro Joaquim Barbosa. A magistratura representada pela Ajufe, AMB e Anamatra o acusam de agir de forma “desrespeitosa, premeditadamente agressiva, grosseira e inadequada para o cargo”. E vai adiante: insinuou que juízes saem com pires na mão em busca de promoção na carreira, chamou de “líder sindical” um deles, acusando-os de atuar de maneira sorrateira para aprovar novos Tribunais Regionais Federais (“uma irresponsabilidade”), arrematando: “os senhores não representa a Nação, são representantes de classe. Não vim para debater com os senhores”. E define o presidente do STF como uma figura sem papas na língua. Chicoteia a torto e a direito, intensificando o clima belicoso entre ele e operadores do Direito, principalmente juízes e advogados, nos quais enxerga “conluios” para troca de favores. O articulista refere-se ainda que na historia do judiciário nunca a locução que emana da cúpula e de suas bases chegou a patamar tão baixo.
A linguagem de feição grotesca não condiz com o ambiente solene do Judiciário, lembrando o preceito de Bacon: “Os juízes devem ser mais reverendos que aclamados, mais circunspectos do que audaciosos”.
Que do alto de sua autoridade, o ministro Joaquim Barbosa não é obrigado a discorrer em juridiquês o tempo todo, da mesma forma que a presidente Dilma deixa de lado o politiquês para apresentar sua receita de omelete no programa de Ana Maria Braga. Os problemas ocorrem quando a conjugação do verbo mexe com os brios de outros, em forma de critica, combate, denuncia, gerando prejuízo ético/moral.
No mais, passa a citar alguns oradores que num esforço de conferir eficácia à palavra, de persuadirem seus interlocutores e o publico ouvinte, foram bastante criativos no uso da linguagem. Um deles: Janio Quadros transmitia autoridade sem perder a compostura. Mestre no uso da palavra certa no lugar e no momento adequado, durante um comício em 1985, chamou Delfim Neto, que já famoso, iniciou a peroração: “A grande causa do processo inflacionário é o déficit orçamentário”. Janio fez cara feia. Em seguida falou: “Olhe para a cara daquele sujeito, Delfim, e o que você acha que ele entendeu? Não sabe o que é processo. Não sabe o que é inflacionário, muito menos o que é déficit. E não tem a menor ideia do que é orçamentário. Da próxima vez, diga: a causa da carestia, é a roubalheira do governo”. Lula também é afeito a palavras que cala fundo, e às vezes exagera na dose: “O vermelho da bandeira do partido é a cor do sangue de Cristo”.
Há momentos em que as palavras caem bem. Quando se quer referir a coisas graves com algum grau de certeza, sem se comprometer. É o caso recente do cidadão (meu conhecido) que fala da tribuna livre na sessão da Câmara de Vereadores de Passa Quatro, e se referindo a abusos praticados em Secretaria Municipal, diz: “...pelo menos é o que se ouve nos botecos, esquinas e padarias.Certo?”

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