Nesse tempo
dos ânimos exaltados, as palavras do consenso acabam transformando em impropérios.
O jornalista, professor titular da USP, consultor
político e de comunicação Gaudêncio Torquato, em sua coluna do Estadão de
domingo, de maneira oportuna e elucidativa, dá inicio a uma enxurrada de
atitudes impróprias de um lado e corretivas de outro, por parte de figuras midiáticas
da política e do judiciário, da atualidade e do passado. Em seu artigo “Degringolou de vez”, como titulo,
escreve que é geral o destempero verbal. O que é natural nas arquibancadas das
torcidas de futebol, peladas e botecos da periferia quando emoções etílicas
resultam um linguajar inaudível sob todos os aspectos, o que dizer quando o
som ecoa da Corte Suprema do País e (nada mais nada menos) seja o presidente e ministro
Joaquim Barbosa. A magistratura representada pela Ajufe, AMB e
Anamatra o acusam de agir de forma “desrespeitosa, premeditadamente agressiva,
grosseira e inadequada para o cargo”. E vai adiante: insinuou que juízes saem
com pires na mão em busca de promoção na carreira, chamou de “líder sindical”
um deles, acusando-os de atuar de maneira sorrateira para aprovar novos
Tribunais Regionais Federais (“uma irresponsabilidade”), arrematando: “os
senhores não representa a Nação, são representantes de classe. Não vim para
debater com os senhores”. E define o presidente do STF como uma figura sem
papas na língua. Chicoteia a torto e a direito, intensificando o clima belicoso
entre ele e operadores do Direito, principalmente juízes e advogados, nos quais
enxerga “conluios” para troca de favores. O articulista refere-se ainda que na historia
do judiciário nunca a locução que emana da cúpula e de suas bases chegou a
patamar tão baixo.
A linguagem de feição
grotesca não condiz com o ambiente solene do Judiciário, lembrando o preceito
de Bacon: “Os juízes devem ser mais reverendos que aclamados, mais
circunspectos do que audaciosos”.
Que do alto de sua
autoridade, o ministro Joaquim Barbosa não é obrigado a discorrer em juridiquês
o tempo todo, da mesma forma que a presidente Dilma deixa de lado o politiquês
para apresentar sua receita de omelete no programa de Ana Maria Braga. Os
problemas ocorrem quando a conjugação do verbo mexe com os brios de outros, em
forma de critica, combate, denuncia, gerando prejuízo ético/moral.
No mais, passa a citar
alguns oradores que num esforço de conferir eficácia à palavra, de persuadirem
seus interlocutores e o publico ouvinte, foram bastante criativos no uso da
linguagem. Um deles: Janio Quadros transmitia autoridade sem perder a
compostura. Mestre no uso da palavra certa no lugar e no momento adequado,
durante um comício em 1985, chamou Delfim Neto, que já famoso, iniciou a
peroração: “A grande causa do processo inflacionário é o déficit orçamentário”.
Janio fez cara feia. Em seguida falou: “Olhe para a cara daquele sujeito,
Delfim, e o que você acha que ele entendeu? Não sabe o que é processo. Não sabe
o que é inflacionário, muito menos o que é déficit. E não tem a menor ideia do
que é orçamentário. Da próxima vez, diga: a causa da carestia, é a roubalheira
do governo”. Lula também é afeito a palavras que cala fundo, e às vezes exagera
na dose: “O vermelho da bandeira do partido é a cor do sangue de Cristo”.
Há momentos
em que as palavras caem bem. Quando se quer referir a coisas graves com algum
grau de certeza, sem se comprometer. É o caso recente do cidadão (meu
conhecido) que fala da tribuna livre na sessão da Câmara de Vereadores de Passa
Quatro, e se referindo a abusos praticados em Secretaria Municipal, diz: “...pelo
menos é o que se ouve nos botecos, esquinas e padarias.Certo?”

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