quarta-feira, 23 de julho de 2014

Religião, política e eleições



A
participação das igrejas, templos, sinagogas e mesquitas nas eleições evoluíram na medida em que seus programas religiosos passaram a ser transmitidos com mais intensidade através das rádios e TVs aos fiéis em todo o território nacional, apresentados em mais de 5 mil municípios. Com os políticos visitando as instituições, o peso deste eleitorado é significativo e pode ser visto pelo tamanho da bancada evangélica, coesa e atuante, na Câmara dos Deputados. A igreja católica, como dogma, procura não se distinguir no meio político temendo ser interpretada como simpatizante de alguma sigla partidária, deixando claro sua neutralidade no meio parlamentar, evitando um engajamento político, embora sejam historicamente respeitados e ouvidos devido a força e poder do Vaticano. Sobre este assunto, alguns cardeais, como o politólogo italiano Bartolomeo Sorge, fazem algumas observações como procurar discernir melhor a qualidade moral da igreja, ou seja, reformular o seu conceito visando a liberdade do homem e o futuro da democracia. A relação entre a religião e a política é um tema que sempre vem a tona nesta época de eleições, e entendo que cada um deve pensar o seu voto de acordo com a sua consciência política e religiosa. Afirmar que um candidato não deva ser eleito porque  não professa a mesma fé que o eleitor também não faz sentido, pois o que importa é o programa de governo que deve compreender os anseios e as necessidades do cidadão, neste caso, consentindo os ensinamentos de Cristo - a liberdade e o amor ao próximo. Faz-nos lembrar da eleição de 1985 para prefeito de São Paulo, em um debate na televisão ente os candidatos Janio Quadros, que não compareceu, e Fernando Henrique Cardoso, quando o intermediador Boris Casoy, jornalista, perguntou se este acreditava em Deus, no que respondeu: “Não acho que as convicções religiosas do candidato sejam relevantes quando se trata do seu desempenho como prefeito”. Foi o suficiente para a imprensa deturpar o que foi dito e comentar que havia perdido a eleição por ter se declarado ateu. Com ou sem fundamentos, anos depois FHC foi eleito e reeleito presidente do Brasil. Importa que o compromisso programático que o candidato sela com o povo deva ser conduzido através de um governo democrático. Quanto a gestão? Só Deus pode determinar se o modelo será eficiente.
Uma resenha (Estadão, 20/7/2014) do que acontece no mundo religioso, especificamente o evangélico, nestas eleições, demonstra que o candidato ao Palácio do Planalto, o Pastor Everaldo, do Partido Social Cristão, cuja população cristã representa 22,2% da população brasileira, segundo o IBGE, tem uma expectativa de atingir ente 10% a 12% do eleitorado até outubro. Na última pesquisa Datafolha o pastor obteve 3% das intenções de voto e manteve-se deslocado dos demais nanicos. “Acredito que 95% das lideranças evangélicas estarão contra Dilma, pelo apoio que ela tem dado a projeto que afrontam valores da família”, diz Silas Malafaia, pastor e líder evangélico. Para chegar a essa meta, Everaldo está construindo apoios como o discurso de que somente uma candidatura evangélica será capaz de impor no detalhe eleitoral as bandeiras da família e da vida, Segundo lideres evangélicos das maiores igrejas ouvidas pelo Estado (jornal), a expectativa é de que o crescimento dele force os demais candidatos a se posicionar claramente como a legalização do aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e descriminalização das drogas. Na campanha de 2010, esses temas ganharam mais relevância no segundo turno. Entre os que se aproximam de Everaldo estão os dirigentes das maiores igrejas evangélicas no Brasil, com exceção da Igreja Universal, do bispo Edir Macedo, que decidiu apoiar Dilma. No Senado o parlamentar Magno Malta, também apoia o pastor Everaldo.  A política é uma ciência, e os religiosos procuram entender as eleições como a escolha de homens tornados instrumentos pelas mãos de Deus, para o bem de uma nação.  
O pastor Ezequiel de Oliveira Pena, da Associação dos Pastores Evangélicos, de Passa Quatro, escreveu: “A Bíblia nos exorta sobre a diferença entre os governantes que temem e os que não temem a Deus. Em 2 Samuel 23.3-4, está escrito que “aquele que domina com justiça sobre os homens, que domina no temor de Deus, é como a luz da manhã, quando sai o sol, como manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva”. “Quando os justos governam, o povo se alegra; mas quando o ímpio domina, o povo geme” (Provérbios 29.2). Daí a importância de observar os candidatos segundo o temor a Deus. Candidatos que temem a Deus tenderão a governar com base nos princípios e valores cristãos e terão chances maiores de fazer um bom governo.
Como está escrito: “Nota o homem sincero, e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz” (Salmos 37.37). “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração” (Salmos 15.1-2).
Que Deus possa nos orientar e nos abençoar nessas eleições, e que nós como povos Eleitos de Deus possamos agir e revelar a grandeza do seu poder.


Uma trajetória discutível






S
em despedida solene e deixando atrás a imagem de um déspota togado, o ministro e presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Benedito Barbosa, não seria tão badalado e chamado de “super herói” não tivesse julgado a Ação Penal 470, que sob os holofotes da mídia teve uma atuação pesada, considerada polemica e fora do normal da Corte. Ao sair, em tom triunfal tascou: ”Saio absolutamente tranquilo, com a alma leve”, - um significado que faz eco para um vasto contingente da população convicta da culpabilidade dos réus do mensalão, mesmo antes das condenações, e de outro lado um público atento e observador, não o político partidário, que viu nestas prerrogativas um comportamento excessivamente dominador e arrogante do magistrado. Com ataques aos próprios colegas do Supremo, não poupou o Conselho Nacional de Justiça – CNJ, a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB e parte da imprensa, enquanto durou o maior julgamento político já acontecido no País.
Na posse do novo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, o ministro Marco Aurelio Mello fez criticas, afirmando que o padrão do STF ficou “arranhado” na administração de Barbosa, que durante 11 anos criou desavenças internas, tornando cada dia mais isolado no tribunal. Os desgastes de Barbosa atingiu seu maior ponto quando negou aos condenados do mensalão, sentenciados ao regime semi aberto, o direito de trabalharem fora, e que foi derrubado pelo plenário comandado pelo novo relator quando o plenário decidiu autorizar mesmo sem completar um sexto da pena, neste caso, beneficiando, entre outros, o mineiro nascido em Passa Quatro, Jose Dirceu de Oliveira e Silva, ex-ministro do Governo Lula. E para quem pensava que o ex-presidente do STF poderia se engajar na política, este ponderou: “A política não tem na minha vida essa importância toda, a não ser como objeto de estudo e reflexões”. O primeiro negro a presidir o Supremo, Barbosa deixa o tribunal aos 59 anos, 11 anos antes de ser atingido pela aposentadoria compulsória. Além de Lewandowsky, relator do mensalão, com quem manteve o mais intenso bate boca, também teve um desentendimento sério no plenário com outros ministros, como Gilmar Mendes: “Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar”. O ministro Luiz Fux, um dos poucos amigos, elogiou assim o colega Joaquim Barbosa: “... fez muito pela Magistratura, guardando três características: a nobreza de caráter, sua elevação moral e sua independência olímpica”. E daí? Se na Corte lançava adjetivos torpes aos colegas por discordarem de suas teses, e não vacilou ao expulsar do recinto da Corte, com a ajuda de seguranças, o advogado de José Genoino que nos seus direitos o enfrentou ao requerer que o pedido de prisão domiciliar para o seu cliente fosse julgado pelo plenário. Entre seus atritos, a imprensa não ficou de fora:  No período em que estava julgando o mensalão, o presidente do Supremo mandou o repórter Felipe Recondo, do Jornal o Estado de São Paulo, aos gritos, “chafurdar no lixo”, ao ser abordado na saída de uma reunião onde resolvia outra seria pendenga com o Conselho Nacional de Justiça – CNJ..
Todos estes episódios renderam abaixo assinados criticando a atuação do magistrado. Uma descrição nada elogiosa, formulada por um dos mais conceituado advogado e professor da PUC há 40 anos, Celso Antonio Bandeira de Mello, e que recebeu Barbosa em sua casa para um jantar, referiu-se às atitudes de Barbosa como “atos de maldade”. E em uma pesquisa editado pelo iG, de 16/09/2013, de Os 60 Mais Poderosos do País, Joaquim Benedito Barbosa aparece em 25º lugar, - considerado por muitos uma espécie de herói do século 21, mas chamuscado pelas sucessivas demonstrações de autoritarismo, assim finaliza: “Se queres conhecer o vilão, dê-lhe o bastão”. O professor de Direito Constitucional, e Doutor em Ciência Política pela USP, Conrado Hubner Mendes, (Jornal o Estado de São Paulo, 6/7/2014) refere-se a Joaquim Benedito Barbosa como uma pessoa que crê possuir a “abertura de espírito para eventualmente até mudar seus pontos de vista anteriores e adotar as orientações que sejam de interesse da nação”, mas que na verdade o magistrado “nunca soube conciliar essas duas proposições. Sempre com um ar de superioridade moral sobre todos aqueles que dele discordam, isolou-se e perdeu a valiosa oportunidade de pôr em marcha algumas de suas boas ideias, mas que estas possam servir de inspiração para o novo ministro”.